domingo, 27 de outubro de 2013




Olhos que se cruzam. Que se batem.

Acariciam-se. Que engolem alma por alma.

 Não em um romper de línguas, mas no encontrar das

retinas.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013







Quantas vezes, amor, te amei sem ver-te e talvez sem lembrança,
sem reconhecer teu olhar, sem fitar-te, centaura,
em regiões contrárias, num meio-dia queimante:
era só o aroma do cereais que amo.

Talvez te vi, te supus ao passar levantando uma taça
em Angola, à luz da lua de junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas e ressoou como o mar desmedido.

Te amei sem que eu o soubesse, e busquei tua memória.
Nas casas vazias entrei com lanterna a roubar teu retrato.
Mas eu já não sabia como eras.
De repente 
enquanto ias comigo te toquei e se deteve minha vida:
diante dos meus olhos estavas, regendo-me, e reinas.
Como fogueira nos bosques o fogo é teu reino. 

(Plabo Neruda, in: Cem sonetos de amor)