quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Quantas vezes, amor, te amei sem ver-te e talvez sem lembrança,
sem reconhecer teu olhar, sem fitar-te, centaura,
em regiões contrárias, num meio-dia queimante:
era só o aroma do cereais que amo.
Talvez te vi, te supus ao passar levantando uma taça
em Angola, à luz da lua de junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas e ressoou como o mar desmedido.
Te amei sem que eu o soubesse, e busquei tua memória.
Nas casas vazias entrei com lanterna a roubar teu retrato.
Mas eu já não sabia como eras.
De repente enquanto ias comigo te toquei e se deteve minha vida:
diante dos meus olhos estavas, regendo-me, e reinas.
Como fogueira nos bosques o fogo é teu reino.
(Plabo Neruda, in: Cem sonetos de amor)
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